A ‘Desnecessidade imediata’ de um TGV | Bases para o debate
A polémica é pertinente. As próprias populações das diversas zonas por onde irá passar o TGV interrogam-se da sua verdadeira necessidade, tendo em conta os milhões de euros que serão empregues na sua construção face á situação actual do país assim como, se a escolha dos traçados servem de facto os seus interesses e não outros. São as pessoas que se deslocam diariamente, recorrendo aos transportes públicos que se manifestam e, melhor que ninguém, sabem quais são as reais necessidades no que diz respeito ao tema, e a quem pouco importa as soluções ‘megalómanas’ apresentadas, as quais servem somente para beneficiar algumas empresas e servir interesses externos. São estas pessoas nos locais quem têm manifestado o seu desagrado com a passagem do TGV e uma profunda incompreensão do porquê destas obras, nos dias de hoje, pois não representam qualquer ajuda ou solução para nenhuma das áreas mais necessitadas.
O sacrifício que se tenta fazer crer necessário e que se exige para viabilizar tais obras, em nome de um dito ‘progresso’ que se impõe como indispensável e inevitável, há muito começou a ser visto com desconfiança por grande parte dos portugueses. Este suposto ‘progresso’, já desacreditado, tem irresponsavelmente servido de sistemática desculpabilização para os milhões de euros gastos como uma solução para a ‘crise’, encarada como um ‘monstro’ alheio à acção dos governos e do sistema capitalista actual. Mas tais argumentos já pouco convencem o povo português.
A ‘crise’ existe, por certo, e está instalada desde há muito em Portugal, de forma endémica. Mas esta não é a do ‘monstro’ que agora se agita para justificar o fracasso do dito ‘progresso’ e das politicas irresponsáveis dos últimos tempos. A verdadeira crise nacional, essa, já há muito tempo se enraizou e é o resultado das ideias vigentes e de medíocres governações que só tendem a agravar-se. A prova disto, são as prioridades, como esta aqui debatida, constantemente assumidas pelo governo como necessidade extrema, e que empurram o país para um crescente e descontrolado endividamento. Continuadas decisões políticas, irresponsáveis, estão ao serviço de todos, menos dos portugueses e, neste caso, nem sequer das populações locais que seriam as possíveis interessadas no projecto em questão.
Uma atitude urgente e um olhar sério para a grave situação actual do país e para os verdadeiros problemas locais, é algo que se impõe, em vez de se continuar a seguir politicas que só favorecem grandes empresas e servem interesses sectários próximos dos governantes.
A obsessão consumista manifesta-se nas próprias opções e caminhos que este governo segue. Não há, nestas grandes obras propostas para esta rede de transporte, qualquer interesse que satisfaça o favorecimento ou desenvolvimento das populações, das pequenas e médias indústrias ou do interior cada vez mais desertificado. Este projecto, está sim, ao serviço de outros interesses. As pessoas mais necessitadas e isoladas ficá-lo-ão cada vez mais. O “interesse” do projecto reside somente em continuar a desenvolver uma ‘bola de neve’ insustentável, que se alimenta de uma ânsia de consumo, para anunciar aos ventos que se tem ‘o maior’ e ‘o melhor’. Tudo isto é somente uma fachada de teor material insustentável, à custa de constantes destruições da estrutura de transportes e comunicações existentes no país e que só contribui para agravar todas as outras situações actuais. ‘Macro cidades’ a consumir bem acima das suas possibilidades, um endividamento insustentável e todo um país ‘morto’ por dentro sem qualquer hipótese de recuperação, são o resultado destas políticas desastrosas e das suas opções e prioridades.
Ideias “iluminadas” como esta do TGV, correspondem a estratégias egoístas do governo para as suas campanhas políticas de quatro anos e permitem aos seus agentes criar formas de garantirem o seu próprio futuro muito próspero.
O erário público é delapidado nestas aventuras, sendo ele tão necessário para as famílias portuguesas e para muitas outras áreas fulcrais ao nosso desenvolvimento e bem-estar, relegando assim estas realidades para um segundo plano. Além disso, são também sacrificadas, inevitavelmente, as prioridades das autarquias obrigatoriamente envolvidas no macro-projecto imposto, que se apresenta como indispensável e sem discussão.
É um crime que num país onde não existe trabalho, se invista em “altas velocidades” que passam á frente dos olhos de muitos que nunca delas irão usufruir, o que reflecte bem a irresponsabilidade e atitude que há muito caracteriza este governo e que deixa antever o rumo que, a persistir, irá arrastar Portugal para a miséria e para o desequilíbrio interno total.
Dizemos sim aos projectos de reestruturação dos transportes nacionais e ao real apoio às necessidades das populações e das pequenas e médias empresas em Portugal. Dizemos sim à requalificação e renovação da rede de transportes já existente e que deve ser, nestes tempos difíceis, apoiada e reforçada, mas sem se gastarem as exorbitâncias em causa, tão necessárias a outros projectos.
O TGV é um mal imediato ‘desnecessário’ que prejudica Portugal!
Envolver-se!
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