Entrar como um leão e sair como um cordeiro
Terminaram as negociações entre a UE e a Grécia, com a capitulação desta última em toda a linha.
Depois do “não pagamos”, do desafio de peito aberto à UE e passado todo o folclore mediático, que até meteu referendos que só serviram para mostrar o desprezo que a esquerda tem pela opinião do povo, a Grécia viu os “valentões” do Syriza, passarem da esquerda radical a um corriqueiro partido neo-liberal. Por cá, a mesma esquerda que vibrava com este partido, anda caladinha, mas tão caladinha que até mete dó.
De uma proposta inicial para pagar num ano, passou-se para um resgate de 86 mil milhões a pagar em três anos. A Grécia, já a arcar com uma tremenda austeridade, viu a mesma ser agravada, com mais cortes na pensões, aumentos do IVA e IRC, exigência de reformas no aparelho de Estado (termo usado pelos “troicanos” e que significa despedimentos e encerramentos de escolas, hospitais, etc). Ao mesmo tempo, assistir-se-à ao regresso dos técnicos do FMI ao processo, com a imposição da constituição de um fundo de 50 mil milhões de activos, dos quais 25 mil milhões servirão para capitalizar a banca, ficando uma grande parte do restante para amortizar a dívida e um parcela residual para investir na economia. Alguém acredita que um país se revitaliza com tais medidas?
Para além do total desrespeito pela vontade popular, este episódio mostra claramente que:
a) tanto a esquerda como a direita não servem os interesses das pátrias e dos povos;
b) que a UE, a Tróica e o FMI, emprestam dinheiro, mas tendo o cuidado de não deixar revitalizar a economia (não vão perder a galinha dos ovos de ouro (juros, amortizações, etc.).
Acresce que esta situação vai ter consequências políticas graves, que provavelmente ditarão o fim do Syriza e da sua passagem pelo poder. Mais uma vez, quem perde é o povo, pois os protagonistas deste experimentalismo vão voltar aos empregos bem pagos, alguns nos países e instituições capitalistas que dizem combater, fazendo-nos lembrar as palavras daquele senhor proscrito pelo sistema: “Infeliz povo se, confundindo promessas vãs com realidades, vier a convencer-se um dia de que o trabalho é sinal de servidão e a desordem atmosfera saudável de vida”.
Entretanto, Pedro Passos Coelho vangloria-se de ter tido a ideia que desbloqueou as negociações. É caso para dizer que, quando este Primeiro-Ministro chegou ao Governo, Portugal estava à beira do abismo e, com ele, deu um passo em frente… Agora, deu a palmadinha nas costas ao seu colega Tsipras, que foi o empurrão que faltava para os gregos terem o mesmo destino.
Envolver-se!
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