O apartheid dos tempos actuais
Por: João Gomes Martins
O dever de dizer a verdade impõe a denúncia dos abusos e má gestão do governo. Em plena crise pandémica pode afigurar-se pouco ético fazer política, porém, a profunda indignação, aliada ao dever de dizer a verdade, impõe denunciar a lastimosa incompetência do Governo, o qual tem demonstrado uma reiterada inabilidade na gestão de crises, seja no caso de triste memória dos incêndios de Pedrógão, seja na actual crise sanitária. E ao governo devemos assacar a devida responsabilidade.
Depois da falta de respeito demonstrada por Ferro Rodrigues, ironizando quanto à utilização de máscaras sanitárias nos inexplicáveis festejos do 25 de Abril, na Assembleia da República, o governo estipulou, cinco dias depois, o uso obrigatório de máscaras nos transportes públicos, máscaras essas cuja utilização a Directora-Geral da Saúde desaconselhou durante todo o processo pandémico.
Entretanto, o governo que impôs o dever de recolhimento domiciliário, a interdição de celebrações colectivas de cariz religioso, os funerais sem aglomerados de pessoas, a proibição de transitar entre concelhos, é o mesmo governo que, no Art.° 46, n.° 6 do Decreto 2-C/2020, de 17 de Abril, garantiu carácter de excepcionalidade à celebração do 1º de Maio, por parte da CGTP em várias localidades do país!
Este apartheid legal, decretado de acordo com a filiação política e ideológica, permitiu que milhares de pessoas circulassem livre e alegremente pelas ruas, desrespeitando, com a conivência governamental, as imposições que o estado de emergência estipula a toda a população. No que respeita aos agentes da Polícia, que no cumprimento do dever são instruídos para repreender ou deter os cidadãos que não respeitem a imposição do estado de emergência, viram-se forçados a articular com as centrais sindicais a organização e a participação nas actividades da celebração do Dia do Trabalhador.
Nesta deplorável celebração, transformada em privilégio de uma determinada casta política, pudemos observar cartazes onde se lia “Defender a saúde” ou “Defender os direitos dos trabalhadores”, mas, paradoxalmente, não apenas esse exemplo dado troçava com a saúde de todos, como, em bom rigor, brincaram ao sindicalismo enquanto à maioria dos trabalhadores não lhes é permitido abrir as empresas para trabalhar, produzir e ganhar o seu sustento. Ademais, a mensagem que aqueles assalariados passaram ao patronato é a de que o confinamento é bom quando se trata de trabalho, mas o desconfinamento para o 1º de Maio é um direito. Tamanha estupidez, eivada de obsessão ideológica, somente prejudica os trabalhadores: todos, sem excepção!
Hoje finda o estado de emergência e passaremos, por decreto governamental, a estado de calamidade, transição, entretanto, criticada por constitucionalistas, que afirmam haver uma contraditória inversão nas medidas adoptadas, o que nos permite concluir que se revela uma verdadeira calamidade sermos governados por uma classe politica que exige ao povo aquilo que não cumpre, uma classe política que se julga acima de tudo e todos, inclusive da lei!
Envolver-se!
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