Medalhas emprestadas? Não obrigado!
Por: João Martins
Há anos que o atletismo nacional vive imerso numa profunda crise, devido ao absurdo desprezo governamental para com a prática do desporto e que, ao longo de penosos decénios, não apostou no incentivo desportivo entre os nossos jovens, nem no desenvolvimento de infraestruturas para esse efeito.
Contudo, cientes da importância mediática que o desporto implica num mundo dominado pelo entretenimento televisivo e comunicações digitais, a classe dirigente cedeu às pressões dos diversos actores desportivos, fossem eles as federações das distintas modalidades, os presidentes de clubes e mesmo os comerciantes de seres humanos, também conhecidos por agentes desportivos. Essas pressões prenderam-se com as vontades de naturalizar atletas desprovidos de quaisquer laços sanguíneos, históricos ou culturais com o povo português, para, desse modo, o país poder celebrar um qualquer lugar num qualquer pódio desportivo.
Assim, recorreu-se a um subterfúgio presente na Lei da Nacionalidade, que define, no n.º 6 do artigo 6.º dessa lei, os requisitos para a concessão da nacionalidade: “O governo pode conceder a naturalização (…) aos indivíduos que, não sendo apátridas, tenham tido a nacionalidade portuguesa, aos que forem havidos como descendentes de portugueses, aos membros de comunidades de ascendência portuguesa e aos estrangeiros que tenham prestado ou sejam chamados a prestar serviços relevantes ao Estado português ou à comunidade nacional”.
Em 1999, Jorge Coelho, à época ministro da Administração Interna, assumia a um jornal ter recebido do presidente da Federação Portuguesa de Atletismo e de um vice-presidente do Sporting C. P., pedidos para agilizar o processo de naturalização do atleta nigeriano Francis Obikwelu. Ora, Obikwelu apenas poderia só poderia ser naturalizado em 2006, se tivesse aguardado pelo tempo de autorização de residência. Porém, devido ao artigo 6.º, foi-o em 2001.
Recorde-se que também em 2003, o jogador de futebol brasileiro, Deco, havia beneficiado de um pretenso “interesse nacional”, reclamado pela Federação Portuguesa de Futebol, para a atribuição da nacionalidade e, assim, poder alinhar pela selecção nacional. Falta dizer que o Futebol Clube do Porto era o principal interessado na dita naturalização, uma vez que, obtida essa, Deco tornar-se-ia atleta internacional ao jogar na selecção portuguesa, fazendo disparar o seu valor comercial, tal como se veio a verificar depois, com a sua milionária transferência para o F. C. Barcelona.
A fórmula para a ambicionada obtenção de medalhas estava deliberada e o poder político liberto da necessidade de despender verbas na educação desportiva da juventude e na onerosa inovação e construção de instalações para essa finalidade. Receituário igualmente aplicado no que respeita ao refluxo demográfico: não há bebés portugueses, importa-se imigrantes, uma vez que estabelecer um programa de incentivos à natalidade revela-se demasiado problemático para o aparelho de Estado.
Chegados aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a comitiva portuguesa apresentava 18 atletas (cerca de um quinto) nascidos em países tão distintos como os Estados Unidos da América, China, Brasil, Rússia Angola, Alemanha, Moldávia, São Tomé e Príncipe, Ucrânia, Guiné-Bissau, Congo, Bulgária, Costa do Marfim, entre outros.
Fu Yu, Shao Jiene, Sergiu Oleinic, Tamila Holub, Victoria Kaminskaya, Lorene Bazolo, Tsanko Arnaudov, Yousef el Kalai, Francis Obirah Obikwelu, Pedro Pablo Pichardo, Auriol Dongmo, Jeremiah Wilson, Arnette Hallman, Frederick Gentry e Marko Loncovic, são alguns nomes de atletas naturalizados que representam o nosso país em diversas competições e que granjeiam medalhas. Todavia, à margem da ufania de boa parte dos órgãos de comunicação, absorvidos pela patológica agenda do anti-racismo, a população portuguesa em geral não enaltece tais medalhas porque, humanum est, não vislumbra portugalidade em tais apelidos ou no artificialismo, que roçaga a batotice, das naturalizações convenientes e oportunistas. Essas medalhas afiguram-se emprestadas e parecem servir somente para camuflar uma aparente incapacidade congénita que de modo algum nos enobrece enquanto povo e muito menos reforça o orgulho nacional.
Neste caso pode-se afiançar que na ausência de ouro, mais vale jogar com a prata da casa. E à falta desses, chega-nos o bronze.
Nota: Por concordarmos plenamente com o conteúdo deste artigo de opinião, publicado no jornal O Diabo, de dia 18 deste mês, decidimos reproduzi-lo com a natural permissão do seu autor.
Envolver-se!
Comentários