Do Presidente aos Nacionalistas | Agosto de 2011
Quando a agência de notação Moody’s classificou Portugal com o nível lixo, tal posição mereceu a indignação e reprovação dos mais variados quadrantes político-sociais. De facto caiu muito mal num país “apostado em vencer a crise” e em “cumprir” fielmente o memorando que a Troika mandou.
Na verdade, nunca se saberá ao certo se a razão está do lado daquela agência, ou não, já que há muitos dados e critérios que escapam não só ao comum das pessoas, como inclusivamente, aos entendidos no tema e aos responsáveis pela governação.
É bem verdade que as classificações destas agências de notação, manipulam e condicionam os mercados, tendo assim um poder imenso que escapa ao controlo dos próprios países, e capaz de atirar qualquer nação para o lixo ou prendê-la a ele de forma crónica.
Mas será que a classificação que coloca Portugal em muito maus lençóis, obedece a regras de um xadrez mundialista de interesses inconfessáveis, ou será que está apenas a traduzir a mais pura realidade? Pois, nunca se saberá ao certo. O que é certo, isso sim, é que estas agências são produto do sistema e por ele sustentadas. É o próprio capitalismo que gera estes monstros que depois condicionam, de facto, os mercados e a saúde financeira de muitas nações.
O próprio sistema mundialista que é um grande contentor de lixo. É um autêntico lixo, esta mentalidade economicista que cilindra e tritura a dignidade humana e sua estabilidade, as nações, as famílias, as empresas, os mercados…
Visto então desta perspectiva, afinal a Moody´s até terá razão: Portugal parece lixo, porque tem governantes que são lixo, leis que são lixo, objectivos de lixo, num regime que que é um verdadeiro lixo. Estão todos bem uns para os outros.
Que dizer, pois, de políticas que levam à prática o programa da Troika, de matriz capitalista-selvagem, sabendo ainda por cima que Portugal não vai pagar a dívida, mas antes está a apertar mais ainda o nó cego? São de facto, políticas de lixo.
Há dúvidas que o governo Passos Coelho vai ser igual ou ainda pior que o do seu antecessor? Eu não duvido; por muito difícil que isso possa parecer. Os primeiros sinais estão a ser dados e o tempo encarregar-se-á do resto.
O Estado Social que defendemos está a ser desmantelado pelo Governo para dar lugar ao selvático arbítrio do liberal-capitalismo.
Até o imposto extraordinário sobre o 14º mês, que já de si é muito mau e fará diferença à maioria das famílias, será apesar de tudo uma gota de água no oceano se comparado com o pacote de medidas agressivas que penaliza Portugal e os Portugueses, desde a Taxa Social Única, aos aumentos alucinantes dos transportes e outros serviços essenciais, desde os agravamentos de preços e cortes de benefícios às privatizações…
E o fosso entre os ricos cada vez mais ricos, e a classe média cada vez mais pobre, não pára de aumentar, justamente porque esta é a mais penalizada.
A agressão ao emprego, traduzido na redução das indemnizações de despedimento de 30 para 20 dias anuais, e destes 20 para 10 num futuro prómio, até se chegar ao despedimento sem qualquer contrapartida ou garantia, é de uma falta de humanidade que não tem qualquer explicação! Alegam eles, que essa é a prática de muitos outros países europeus. Mas isso não significa que tenhamos que concordar com ela, e, sobretudo, importa não esquecer que nesses países os salários são outros, e as condições face ao desemprego também, e ainda o mercado de trabalho. Afinal o que eles querem é fazer dos trabalhadores portugueses, mão-de-obra escrava, refém da insegurança e incerteza, tendo que se agarrar a condições de trabalho infra-humanas num mercado onde o emprego é descartável. Decisões destas, sim: são lixo!
E que dizer do programa de privatizações? Um Estado que abdica dos sectores vitais para a soberania e economia nacionais e que anda, pela mão do Ministro dos Negócios estrangeiros e vendê-los em Angola e Brasil, está a condenar à morte este país enquanto nação, transformando-o numa empresa por quotas, em mãos de privados e de países estrangeiros. Não é admissível que os sectores das energias, recursos naturais, transportes e comunicações sejam transformados em objecto de lucro à mercê de interesses privados e estrangeiros. Um Governo que vende o país a retalho, é um Governo de lixo.
De igual modo, o clima de favorecimentos já se faz sentir. Basta ver esta situação vergonhosa da venda em saldos do BPN, aos angolanos, banco este que já deu tanto prejuízo ao erário público e que, ainda por cima, foi vendido por 40 milhões de euros, quando havia uma oferta nacional de 100 milhões… Estamos a ser geridos por governantes de lixo!
Por outro lado, as nomeações e os cargos para os boys, já começaram a disparar no Governo do 1º Ministro que “precisa” de 14 motoristas, dando continuidade à prática dos governos pós 25 de Abril.
Os cortes profundos e claros no despesismo do Estado e nos interesses sectários, esses é que não se vêem. O investimento e aposta na produção nacional e na revitalização da economia, também são uma miragem neste panorama de lixo.
Então onde se pretende chegar com cortes sistemáticos nos direitos e garantias dos portugueses, com cortes nos rendimentos, abonos de família e idade de reforma e com o agravamento de preços em todos os bens e serviços? Onde se pretende chegar se não há o menor sinal de esperança no futuro ou perspectiva que mitigue e compense os sacrifícios? Onde se pretende chegar sabendo-se perfeitamente que Portugal não terá capacidade para pagar a dívida?
É mesmo caso para dizer que afinal o lixo da Moddy’s sempre tinha razão: lixo é a nota que o regime e o governo de Portugal merecem. Tudo o resto é consequência disso.
José Pinto-Coelho | 4 Agosto 2011
Envolver-se!
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