Pela defesa do Comboio como Futuro
Portugal foi o único país da Europa Ocidental que nos últimos 20 anos perdeu passageiros na ferrovia: de 229 milhões de passageiros em 1989, no prelúdio da hecatombe ferroviária de Cavaco Silva, para 131 milhões em 2009, no dealbar de novo desastre ferroviário nacional, representando assim uma queda de 43% da procura, enquanto no mesmo período de tempo a Espanha aumentava o seu tráfego ferroviário de passageiros em 150%.
Entre 1987 e 1992 encerraram-se cerca de 900 quilómetros de caminhos-de-ferro em Portugal, atirando regiões como Trás-os-Montes e Alto Douro e o Alentejo quase que exclusivamente para a rodovia. Tudo isto perpetrado em nome de um equilíbrio das contas, então apenas da CP, contra um manipulado despesismo das vias-férreas ditas secundárias e altamente deficitárias, que num ano recebiam avultados investimentos e horários absurdos, para no ano seguinte serem encerradas. Nos anos seguintes mais ferrovias encerram “provisoriamente para obras” que, apesar dos largos milhares gastos em estudos, nunca chegaram a ser feitas, passando o encerramento a ser definitivo.
Em 1992 existiam 19.500 trabalhadores ferroviários em Portugal; em apenas 17 anos esse número caiu para 8.000 funcionários, mais uma vez a bem do equilíbrio das contas, agora tanto da CP como da REFER. Os custos com administradores no entanto cresceram neste período de tempo 110%, e o défice conjunto da CP e da REFER aumentou 143%, acompanhados por cada vez menos horários, menos serviços, menos condições nas estações, transbordos impossibilitados por questões de 2 ou 3 minutos, menor manutenção da via, e um imenso desrespeito pelos utentes um pouco por todo o país.
O transporte de mercadorias, que até 1987 era comum a praticamente todas as linhas ferroviárias nacionais – desde pequenos despachos a grandes volumes e toneladas de mercadorias avulso – efectua-se agora graças apenas a algumas empresas detentoras de ramais particulares e aos movimentos de alguns portos, e apenas na Via Larga. A esmagadora maioria das mercadorias em trânsito em Portugal passam pelas estradas e auto-estradas, com custos de portagens e de combustíveis que encarecem todos estes bens, para além de aumentar a brutal dependência energética do sector dos transportes, poluição ambiental e atmosférica e a insegurança rodoviária.
O “Plano Estratégico de Transportes”, recentemente apresentado pelo governo PSD/CDS vem dar mais uma machadada no actual estado de abandono dos caminhos-de-ferro portugueses e a cobiça manifestada pela TRANSDEV (empresa privada que já tem a concessão para transportes rodoviários de muitas linhas encerradas) vem levantar a ponta do véu que cobre a negociata que esta por detrás daquilo que o sistema chama de progresso ou cortar gorduras.
O esquema foi bem engendrado e planeado: em primeiro lugar colocaram na CP e nas empresas satélites, administradores e directores com interesses em empresas rodoviárias privadas, depois deixaram envelhecer e deteriorar linhas e composições, provocando atrasos, falta de comodidade e segurança e por fim modificaram horários impossibilitando chegar as horas ao trabalho ou à escola.
Esta gestão danosa e criminosa foi feita com o único fim de encerrar linhas ferroviárias para entregar o transporte de passageiros e mercadorias a empresas privadas.
O PNR continua a defender as vantagens do transporte ferroviário vendo-o como o futuro, já que oferece maior segurança, mais capacidade de transporte e, quanto electrizado, mais amigo do ambiente e com menos dependência energética.
Por isso, lutaremos:
> Contra o encerramento demais linhas
> Pela reabertura, modernização e electrificação das linhas e ramais que foram encerradas.
> Pela defesa de um plano de transportes que aposte na ferrovia – vertentes de transporte de passageiros e mercadorias – com ligações aos portos e consequente ligação à Europa.
Envolver-se!
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