40 anos de regime: celebrar o quê?
(Do Presidente aos Nacionalistas | Abril de 2014)
A propósito dos 40 anos do regime, já que se trata de uma data redonda e de provecta idade, importa fazer um balanço daquilo que este tem sido, considerando que as obras se vêem pelos seus frutos.
A revolução de 25 de Abril de 1974, que depôs o anterior regime, e ao contrário do que clama a propaganda oficial, não se revestiu de qualquer acto de heroísmo, já que o regime então apeado perdera muita da sua base social de apoio e cairia ao mínimo sopro. Assim, uma simples motivação sectária de reivindicação profissional por parte de alguns capitães, devidamente orquestrada por forças diversas empenhadas em subtrair-nos o Ultramar (coisa que não conseguiram no terreno ao cabo de 13 anos de guerra contra Portugal), deu o golpe de misericórdia numa névoa de regime, sem alma nem corpo, que se limitava à prática de políticas de gestão corrente. O verdadeiro heroísmo estava pois naqueles militares e civis empenhados na defesa das nossas então Províncias Ultramarinas.
Independentemente de juízos de valor sobre virtudes e defeitos do regime caído e das motivações e adesões à revolução, parece evidente que entre os entusiastas desta havia uma larga matiz de tendências, intencionalidades e expectativas, desde as mais idealistas e sinceras às mais subservientes a interesses e agendas inconfessáveis ou egoístas e sectárias. O traço de união entre todas foi a euforia de mudança face a algo que já não agradava a gregos nem a troianos.
Seja como for, e mesmo descontentes, os apoiantes do regime, reconhecendo também o seu avançado estado de degradação, sabiam, no entanto, que ele salvaguardava valores e desígnios nacionais inegociáveis e que qualquer aventura revolucionária deitaria tudo a perder, como aliás se verificou.
E como contra factos não há argumentos, goste-se ou não, a revolução aconteceu e tudo mudou naquela madrugada. Mas, para lá de opiniões, gostos ou sensibilidades, há que reconhecer que o regime caído deixou um legado à geração de então – incluindo aos senhores da nova situação – e às vindouras. Concorde-se ou não com as suas políticas, é indesmentível que nos deixou um legado palpável e positivo, nomeadamente: espírito de serviço na política e gestão pública, objectivos nacionais, crescimento económico assinalável e constante, uma das maiores reservas de ouro do mundo, a dívida externa mais baixa de sempre (de uns inacreditáveis 15% do PIB), milhares de escolas e de infra-estruturas básicas de saúde, abonos de família, inúmeros bairros sociais e uma independência e soberania reais.
Tudo isto foi construído após o esforço nacional de recuperação da bancarrota e do caos social deixados pela 1ª República, e sem resgates financeiros, nem fundos estruturais… e sustentando ainda uma guerra em 3 frentes, ao longo de 13 anos.
Este foi o legado! Foi o ponto de partida invejável que tiveram os responsáveis pela nova situação, movidos por ideais diferentes, para poderem por em prática as suas ideias e demonstrar o seu valor.
No entanto esse legado não foi aproveitado. Pelo contrário, em escassas semanas mergulhou-se o país na anarquia e nas convulsões sociais, e o poder caiu na rua às mãos do terror comunista. Greves, saneamentos, perseguições e ocupações selvagens eram quem mais ordenava e deu-se o inevitável colapso da actividade produtiva. Enfim, foram os “anos dourados” do PREC, que alimentam a nostalgia dos puristas de Abril.
Reposta a estabilidade, paulatinamente, após o 25 de Novembro de 1975, a nova classe governante, agora à mercê de interesses mundialistas e de um capitalismo apátrida, servindo apenas quem lhe dava as ordens e que por duas vezes (em 1979 e 1983) interveio financeiramente para retirar Portugal do buraco que o PREC cavou, entregou-se a uma agenda federalista europeia que mais não é do que uma das facetas do mundialismo, a qual nos sufocou e tiranizou. Foi a época do dinheiro fácil dos fundos estruturais pelo preço altíssimo do desmantelamento do nosso tecido produtivo, já muito combalido pelo PREC, mas agora abatido de modo consciente.
Emergiu assim uma classe dirigente de tecnocratas, movida por interesses sectários e de lóbis enquadrados em estratégias das organizações mundialistas, nefastas, como a maçonaria, o Clube de Bielderberg, a Trilateral e outras.
Estes dirigentes internos, porta-vozes de ordens externas, e que hoje permanecem no comando dos nossos destinos, não têm qualquer visão estratégica a prazo nem tão-pouco consciência nacional. Servem-se, em vez de servirem; e governam à vista, ao compasso de ritmos eleitorais e ao serviço do grande patrão mundialista.
O resultado está à vista e nem a propaganda maciça das “virtudes” do regime de Abril, consegue esconder totalmente o desconforto de tantos dirigentes que vêem que o “Rei vai nu” mas não podem nem querem perder a face. Menos ainda consegue esconder o sentimento de frustração (e por vezes até de culpa) dos puristas de Abril, o desencanto dos desiludidos e o descontentamento da maioria a quem nada diz esta efeméride.
O regime está podre, tal como aconteceu com o anterior. E não se trata de juízos de valor: é apenas um facto! Só não foi derrubado ainda porque justamente pertence a esta teia mundialista que aniquilou as soberanias nacionais e não permite que as nações escolham os seus destinos.
Contudo, como nada dura eternamente, também a agenda mundialista tem e terá brechas e aspectos que lhe escapam ao controlo. Por conseguinte, nem mesmo este regime está totalmente salvaguardado face ao futuro.
Perante esta situação de regime podre e de desagrado da maioria, importa também analisar o seu legado… O que nos deixaria ele se hoje, com toda a justiça, fosse derrubado e substituído? Qual o ponto de partida que os novos governantes teriam?
Sem querer aprofundar muito o que pertence ao passado, pois já não volta, é bom que nunca se esqueça o que foi a “descolonização exemplar” e todos os crimes e atrocidades que a envolveram, mas que ainda hoje são escondidos da maioria dos portugueses. Crimes esses que tiveram responsáveis, muitos dos quais ainda estão vivos, embora já não em funções. A História ainda está por ser escrita como deve ser…
É bom olhar-se os dados indesmentíveis do INE sobre o PIB e a dívida externa. Desde 1974 que a dívida externa disparou, passando dos tais 15% do PIB para os actuais e criminosos 130%. Quanto ao PIB, tem vindo a decrescer incessantemente. Estas duas tendências acentuaram-se mais ainda com a adesão de Portugal à moeda única (Euro). Também aqui há responsáveis, mas neste caso concreto todos estão vivos e (para mal de todos nós) alguns ainda estão em funções!
Olhamos hoje à nossa volta e observamos, boquiabertos, o panorama do legado de 40 anos de regime que ainda teimam em celebrar:
– Dívida externa impagável e que captura as próximas gerações;
– Corrupção e tráfico de influências instalados aos mais altos níveis e entranhado na sociedade;
– Impunidade dos responsáveis pela pilhagem do erário público e dos recursos nacionais;
– Desmantelamento do nosso tecido produtivo;
– Soberania fragilizada e dependência quase total do exterior;
– Venda dos sectores vitais para a nação a estrangeiros e privados;
– Fosso crescente entre ricos (ilicitamente enriquecidos) e um quarto da população em situação de pobreza;
– Desemprego que afecta um quarto da população activa;
– Identidade nacional ameaçada pela substituição populacional;
– Emigração maciça por falta de oportunidades em Portugal e imigração invasora com direitos que são negados aos nacionais;
– Estupidificação e narcotização das massas e imposição da ditadura do relativismo;
– Censura dissimulada e arbitrária, manipulação das mentes, propaganda distorcida e discriminação “positiva” (positiva apenas para alguns, claro está);
– Desertificação das vilas e aldeias, sobretudo do interior;
– Criminalidade crescente;
– Promoção da cultura da morte, com ataques constantes à Vida e à Família.
Eis os frutos podres de um regime que se proclama virtuoso e dono da liberdade, como se esta se limitasse à expressão e à associação política, que os seus arautos proclamam existir embora nós, nacionalistas, saibamos que não é assim, vítimas como somos de uma constante censura nem sempre bem dissimulada. Mas não será a liberdade muito mais do que isso e, sobretudo, importante também noutros domínios? A liberdade de podermos sair à rua em segurança, de podermos ter oportunidades e emprego, de termos igualdade no acesso à Saúde, à Educação e à Justiça… O tema “liberdade” não é linear e nem dele este regime se pode proclamar detentor.
Pouco ou nada de positivo se poderá dizer que este regime deixa às actuais e vindouras gerações senão uma imperiosa necessidade de reconstrução e renovação nacional. E, pior que tudo isto, caso ele subsista, acabará por retirar a última coisa que nos sobra: a esperança!
É preciso então ter coragem para mudar. É preciso compreender que só há solução para Portugal – porque há! – se este regime e os seus protagonistas forem arredados para dar lugar a um regime novo.
Portugal precisa de reencontrar objectivos nacionais e estratégias de longo prazo que não estejam confinados à sufocante agenda europeísta e mundialista, ou seja, objectivos e estratégias que nos permitam estar abertos ao mundo, sim, mas usufruindo de soberania e exercendo o direito sagrado que temos, enquanto portugueses, à posse de Portugal e dos meios para podermos gerir livremente os nossos recursos e escolhermos livremente o nosso destino.
Portugal precisa pois de uma nova Constituição, ágil e aberta, que não nos mantenha reféns de ideologias e de uma complexidade de artigos que nos impede de evoluir política e economicamente.
Urge enveredarmos por um novo modelo de sistema político livre da partidocracia, onde haja espaço para a intervenção da sociedade civil e onde o Referendo – nacional e local – seja uma prática comum.
Urge, também, uma nova lei eleitoral, que consagre um círculo único nacional, embora respeitando a representatividade das regiões, e onde os votos sejam rigorosamente proporcionais, abolindo-se o método de Hondt; onde a Assembleia da República não tenha mais de cem deputados e possam ser eleitos representantes de organismos da sociedade civil e membros de listas de cidadãos independentes; onde os partidos políticos deixem de ser financiados pelo erário público e exista igualdade de tratamento entre eles; e onde os deputados possam ser responsabilizados por aqueles que os elegeram. Tudo isto sem prejuízo de se evoluir gradualmente para um sistema cada vez mais participativo e onde a nefasta partidocracia e a decorrente submissão do poder legislativo aos lóbis sejam atiradas para o caixote do lixo da História.
Portugal precisa pois de um novo regime, que restabeleça a soberania, a produção nacional, a ordem e a justiça social, e onde a Justiça funcione como poder realmente independente.
Perante a situação actual, ou os portugueses continuam a encolher os ombros numa atitude de cumplicidade passiva com este sistema (que além de ter arrasado tudo ainda nos retirará a esperança) ou mostram coragem para mudar.
E mudar implica de facto a construção de um novo regime, que substitua esta moribunda e nefasta e nociva 3ª República e que tenha uma alma Nacionalista que nos dê um rumo nesta hora tão incerta e difícil.
José Pinto-Coelho | 24 de Abril de 2014
(Gráfico – fonte: INE)
Envolver-se!
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