Roubados e agradecidos
Partilho convosco o meu sentimento acerca da sociedade portuguesa e das governações que têm assolado o nosso país, deixando bem claro que não olho para o estado do país como sendo resultado de apenas um partido político ou governo, mas sim de um problema cultural.
Os escândalos na classe política, há décadas que fazem parte do dia a dia nacional e, lamentavelmente, os portugueses parece já se terem acostumado a isso. Ouvir nas televisões ou ler nos jornais e redes sociais que algum governante andou a infringir as leis, falsificar documentos, subornar funcionários, fugir aos impostos, mentir, já não chama mais a atenção. Não choca mais o ouvido dos portugueses. A corrupção, já não é uma situação pontual, antes, confunde-se com o próprio sistema político e compromete a justiça social, o crescimento económico, a iniciativa, a lealdade, a honestidade e ética em qualquer actividade económica ou laboral.
Muitos portugueses continuam a comportar-se como seres não-pensantes e, por serem subprodutos de uma lavagem cerebral, não enxergam (ou não querem) que os políticos apenas se servem dos cargos e sustentam parasitas. As tais “conquistas sociais”, proclamadas pela ditadura “cor-de-rosa”, não passaram de ilusões, desmentidas pela inflação, pelo desemprego e pela queda rendimentos, prejudicando principalmente os mais pobres. A injustiça social e o fosso que ela gera entre ricos e pobres, honestos e desonestos, impunes e perseguidos, são a imagem dessas conquistas sociais.
Questiono-me, perante tanta impunidade, até quando o povo aceitará em silêncio este estado de coisas. Até quando o povo aguentará sustentar uma corja de políticos que nem sequer tem noção das dificuldades pelos quais passa o país real? A resposta é simples: as pessoas aguentarão enquanto não tiverem educação e conhecimento suficientes para intervir e mudar o quadro político português; enquanto só pensam nos seus interesses egoístas – replicando, de mão-estendida, a mentalidade dos donos do poder; enquanto acreditam nas promessas dos politiqueiros sem escrúpulos.
Ante um cenário de corrupção crescente, é difícil dar-se a volta à situação quando temos um povo formado essencialmente por indivíduos que só sabem contribuir e baixar a cabeça, na maior parte das vezes inconscientemente, fruto de anos de formatação mental, desinformação e amestramento, o que os tornou coniventes e dependentes do “grande irmão”, esperando sempre dele qualquer solução. Essa espera vã é entretida com promessas e migalhas enquanto o navio vai ao fundo… Em Portugal os leões (povo) caçam, mas as hienas (políticos) é que se servem.
Cito alguém que outrora disse e com razão: “a ditadura perfeita terá aparência de democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a sua fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua própria escravidão”.
“Ao percebes que para produzir, precisas de obter a autorização de quem não produz nada; ao comprovares que o dinheiro flui para quem negoceia não com bens, mas com favores; ao perceberes que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, e não pelo trabalho; ao constatares que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos; ao verificares que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício, então poderás afirmar, sem temor de errar, que nossa sociedade, desse modo, está condenada.”
Assim, cada vez se torna mais urgente o grito: Ergue-te Portugal!
Envolver-se!
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